A Melissa é conhecida desde a década de 80 por fazer colaborações com grandes profissionais do design e moda, como Karl Lagerfeld, Vivienne Westwood, Jason Wu e vários outros nomes que se tornaram comuns no vocabulário de melisseiras e melisseiros. A partir de 2018 a marca resolveu abrir seu leque de colaborações, iniciando um concurso que permite a participação de qualquer pessoa acima de 18 anos. Assim surgiu o Melissa Next.
Em sua primeira edição, a iniciativa aconteceu em Londres e premiou Fiorella Gianini. Em 2020, o concurso aconteceu no Brasil e a vencedora foi Carla Colares, pela criação do modelo Geometric Rupture que, segundo ela, deve chegar às lojas no final de 2020, junto com os modelos do verão.

Formada em Design de Moda pela Universidade do Ceará e com especializações em Design de Produto e Design de Comunicação de Moda, Colares, aos 26 anos, conversou com o Garage Sale Melissa direto de Portugal, onde finalizou o mestrado em Design de Comunicação de Moda, e espera pelo fim da pandemia para retornar ao Brasil. Segundo ela, o desejo de conhecer mais sobre design foi para preencher uma lacuna na formação em moda. “O pessoal de design de produto está mais ligado em sustentabilidade, no usuário. Tinha vontade [de conhecer] isso e decidi fazer esse um ano de design de produto. Foi muito importante. Tive uma noção do que é um produto de moda como design, não só como algo passageiro”.
“Sabemos que o discurso da sustentabilidade é, muitas vezes, elitista. Então como, na minha realidade, eu posso ser uma pessoa mais sustentável? Sempre procuro isso: o que eu posso fazer para ser uma profissional mais sustentável, para ser uma pessoa mais sustentável”, reflete sobre a importância de unir sustentabilidade e moda.
Usuária de Melissa, Colares revela que não é colecionadora, mas que tem os modelos Possession e Mar como suas queridinhas. “[A Possession] é muito confortável e combina com tudo. Amo essa sandália. Mas a que eu acho mais bonita entre as que eu tenho é a Mar, como a plataforma bem alta. Me sinto maravilhosa com ela”.
Ruptura e inspirações
Colares ficou sabendo sobre a realização do Melissa Next no Brasil por uma amiga, mas admite que não tinha a pretensão de ganhar. “Pensei ‘vou participar para ficar de portfólio’, totalmente sem pretensão. Eu nunca achei que seria escolhida”. Mesmo sem pensar que poderia ser a vencedora, Colares se dedicou ao projeto que se tornaria a Geometric Rupture e começou pesquisando sobre o processo criativo da primeira vencedora, Fiorella Gianini.
“Pensei no potencial positivo que a moda tem de sempre romper barreiras. Quando a moda rompe, sempre é para um novo momento de libertação. A moda tem esse potencial positivo de ruptura. Me inspirei nisso (…). Uma das coisas que procurei é que não fosse um modelo com muita informação de moda, que não fosse passageiro. A Melissa é um calçado de plástico, então é interessante que seja um calçado que dure pelo menos algumas estações”.
Depois de decidir o conceito, Colares dividiu seu processo criativo entre cor, textura e forma, e buscou diversas inspirações. Entre elas estão os movimentos vanguardistas da década de 50 no Brasil, o concretismo e neoconcretismo. A designer explica que, dentro do concretismo, havia um movimento chamado Ruptura e o quadro Espaço Construído, de Décio Vieira, uma de suas inspirações.

“Depois busquei inspirações para formas e lembrei de uma escultura em Londres, no Lago Serpentine. É um lago super bucólico, com essa escultura gigante flutuando, como se fossem barris enfileirados. Aquilo era uma ruptura na paisagem. Em um local romântico e bucólico, tem aquele negócio gigante. Eu gostei muito das formas, dos cilindros. E também quis me inspirar em algo que já existia, mas não necessariamente um sapato de moda. Meu mestrado foi sobre moda, arte e museus, então me inspirei também nos tamancos Geta, da cultura tradicional japonesa, que têm essa questão dos planos cheios e vazios. Foi uma inspiração como uma homenagem. Não quis pegar nenhuma outra referência a não ser o formato”, completa.
Escultura no Lago Serpentine/Wolfgang Volz Tamancos Geta/Divulgação
Nascida no Ceará, Colares busca ir além das representações tradicionais dos nordestinos, sem deixar de lado suas origens. “Cheguei à essa conclusão sendo nordestina e não me vendo representada pelo que se tem na grande mídia. É sempre uma caricatura. Quando olhamos para a tela e olhamos para nós, vemos que não é aquilo. Nós somos diferentes. Admiro muito tudo e sei que faz parte de mim, que é a minha história, mas também não quero que minhas inspirações sejam sempre Maria Bonita e Lampião, quero mais que isso”.
Curiosamente, o estado do Ceará abriga a fábrica da Grendene, no município de Sobral, e Carla revela que recebeu uma mensagem muito forte de identificação quando ganhou o Melissa Next. “Quando saiu o resultado, uma senhora que trabalha na fábrica da Grendene em Sobral, veio falar comigo dizendo que ficou muito feliz que uma cearense venceu o concurso. Ela me disse ‘nós que vamos fazer a sua Melissa, seu sonho, virar realidade’”.
Com o mundo ainda em pandemia pelo coronavírus – que vitimou o avô de Carla, na mesma semana em que ela ganhou o concurso – ainda é incerto como será o lançamento e divulgação do modelo Geometric Rupture. Mas ela já garante que, quando tudo passar e o mundo tiver uma vacina, ela está pronta para viajar o Brasil (quem sabe o mundo?) para mostrar sua criação para cada vez mais pessoas. “É só a Melissa me chamar”.
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Jornalista com mais de 8 anos de experiência, com foco em entretenimento e cultura pop. Apaixonada por Melissas desde 2010 e sempre em busca de conhecer mais sobre a marca